sábado, 29 de outubro de 2011

Artigo sobre Bullying

BULLYING: A BRINCADEIRA QUE MACHUCA
FLORIANO, M. Bárbara. Professora na Área de Educação Superior na FA4UATRO

Atualmente temos ouvido muito essa nova palavra “bullying”.Os noticiários, jornais, revistas, livros, matérias especiais, conversas no ambiente de trabalho e até os bate-papos de amigos estão voltados ao tema.
A curiosidade sobre tal assunto levou-me a pesquisar para compreender um pouco mais sobre esse fenômeno crescente que a cada dia tem ocupado mais espaço no cotidiano dos brasileiros.
Bullying é uma palavra de origem inglesa e sem uma tradução específica no Brasil, usada para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos. Esse termo pode ser usado para caracterizar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, proposital e sistemático inerente às relações interpessoais.
O praticante do bullying é chamado de bully (agressor), que pode ser uma única pessoa ou, como na maior parte dos casos, um grupo de pessoas.
O bully pratica tais atos de violência contra uma ou mais vítimas que se encontram impossibilitadas de se defender, normalmente por uma desigualdade subjetiva de poder. Esse  agressor é o sujeito dominante de uma turma, proibindo qualquer atitude de solidariedade para com o agredido.
Dentro desse contexto podemos ver como a violência no mundo tem aumentado e isso se deve a vontade de obter poder e à grande intolerância que tem dominado a atual geração. Tais fatores agravam em muito a formação ou deformação do caráter de nossos jovens de hoje.
Abuso de poder, intimidação, prepotência, arrogância, intolerância e desrespeito são apenas algumas características adotadas pelos bullies como meio de impor sua autoridade e manter suas vítimas sob total domínio.Esses atos de desumanidade destroem a saúde física e mental, a autoestima e autoimagem das pessoas que são vitimadas pelo bullying.
Existem diferentes formas de bullying que serão listadas abaixo:
Verbal
·                    Insultos;
·                    Ofenças;
·                    Xingamentos;
·                    Gozações;
·                    Apelidos pejorativos;
·                    Piadas ofensivas;

Físico e Material
·        Bater;
·        Chutar;
·        Espancar;
·        Empurrar;
·        Ferir;
·        Beliscar;
·        Roubar ou destruir pertences da vítima
            
                 Psicológico e Moral
·      Irritar;
·      Humilhar e ridicularizar;
·      Excluir;
·      Isolar;
·      Ignorar, desprezar;
·      Discriminar;
·      Aterrorizar e ameaçar;
·      Chantagear e intimidar;
·      Tiranizar;
·      Dominar;
·      Perseguir;
·      Difamar
              
                 Sexual
·   Abusar;
·   Violentar;
·   Assediar;
·   Insinuar
            
                 Virtual ou Ciberbullying
·     Celular;
·     Internet
Esses aparelhos e equipamentos de comunicação são capazes de difundir muito rapidamente calúnias e maledicências.
O bullying, além de ser um ato de violência em seus termos acima citados, causa conseqüências psíquicas e comportamentais em suas vítimas, uma vez que essas são expostas por um tempo prolongado a um grande sofrimento interno. É importante lembrar que as situações de bullying agravam problemas preexistentes, podendo em alguns casos, exigir cuidados médicos e acompanhamento psicológico para que possam ser superados. São eles:

SINTOMAS PSICOSSOMÁTICOS
São sintomas que comprometem o bem- estar das pessoas. Normalmente manifestam-se na forma de sintomas físicos, após a pessoa passar por grandes pressões psicológicas.
Exemplos: dor de cabeça; cansaço crônico; insônia; dificuldade de concentração; náuseas, diarréia; boca seca; alergias; tremores; sudorese; tonturas; tensão muscular, etc.

TRANSTORNOS DO PÂNICO
E caracterizado pelo medo intenso e infundado que surge do nada e sem aviso prévio. O sujeito sente um medo e ansiedade enormes que vêem acompanhados de sintomas físicos (taquicardia, calafrios, boca seca, dilatação da pupila, etc). Um ataque de pânico pode durar de vinte a quarenta minutos.

FOBIA ESCOLAR
Manifesta-se através de um medo intenso de freqüentar a escola. A vítima de fobia escolar apresenta diversos sintomas psicossomáticos e de transtorno do pânico, dentro da própria escola.
A fobia escolar ocasiona repetência por falta, problemas de aprendizagem e, na maioria das vezes, evasão escolar, uma vez que a pessoa que sobre desse problema não consegue permanecer no ambiente que lhe suscita lembranças traumáticas.
Um fator que pode agravar em muito a fobia escolar é a prática do bullying, e portanto o professor, bem como todos os envolvidos no processo escolar devem estar atentos para prevenir e impedir que tal prática seja ativa na escola.

FOBIA SOCIAL
Também conhecida como timidez patológica. A pessoa que sofre de fobia social tem uma ansiedade excessiva e persistente, com um grande medo de ser o centro das atenções ou de ser avaliado e julgado negativamente.



TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA
É uma sensação de medo e insegurança persistente. A pessoa que sofre desse transtorno preocupa-se com todas as situações ao seu redor.
Normalmente são pessoas impacientes, apressadas, aceleradas, negativistas e costumam ter insônia, irritabilidade e, sem o devido tratamento podem sofrer de transtornos mais graves.

DEPRESSÃO
Trata-se de uma doença que interfere no humor, nos pensamentos, na saúde e no comportamento. Tristeza persistente; ansiedade ou sensação de vazio; sentimento de culpa; inutilidade e desamparo; insônia ou excesso de sono; perda ou aumento de apetite; etc, são sintomas característicos da depressão.

ANOREXIA E BULIMIA
São os transtornos alimentares mais relevantes atualmente em nosso contexto sociocultural.
A anorexia é caracterizada pelo pavor incontrolável que a pessoa tem de engordar, com grave distorção de sua autoimagem corporal.
A bulimia trata-se da ingestão compulsiva e exagerada de alimentos e seguida por um sentimento de culpa, levando a pessoa a praticar ações compensatórias para eliminar os alimentos ingeridos. Como exemplo disso: vômitos autoinduzidos, abuso de diuréticos, laxantes, excesso de exercícios físicos e longos períodos de jejum.

TRANSTORNO OBSESSIVO- COMPULSIVO
Pensamentos de natureza ruim, intrusivos e recorrentes, causando ansiedade e sofrimento, são características desse transtorno.
Na tentativa de exorcizá-los e aliviar a própria ansiedade, a vítima do TOC adota comportamentos repetitivos, sistemáticos e ritualizados.
A pessoa que sofre de TOC é tida como esquisita e até louca, o que acarreta grande constrangimento.

TRANSTORNO DO ESTRESSE PÓS- TRAUMÁTICO
É caracterizado por idéias intrusivas e recorrentes de um evento traumático pelo qual a pessoa tenha passado. Esse transtorno pode levar a um quadro de depressão, embotamento das emoções, sensação de vida abreviada, perda de prazer.

Diante de todas as conseqüências ruins que o bullying acarreta faz-se necessário que pais e educadores atentem-se para a ocorrência de tal ação nos ambientes em que seus filhos e alunos freqüentam cotidianamente.
Creio que seja de extrema importância transmitir uma educação com vistas ao respeito e a tolerância pelo diferente e isso só será feito no seio das famílias, seja ela da classe social que for, e na escola, considerada um ambiente de conhecimento.
O fenômeno bullying, assim como uma peça de teatro ou um filme, possui seus personagens. Veremos quais são e os papéis que esses desempenham nessa trama de terror.
Os agressores: são pessoas que apresentam desrespeito e maldade como traços de sua personalidade e, geralmente, possuem um poder de liderança normalmente legitimado pela força física ou psicológica.Tais pessoas apresentam desde cedo aversão às normas sociais, e seu desempenho escolar é sofrível. Falta-lhes claramente o afeto para com o outro, ou seja, a capacidade de empatia.
As vítimas: os motivos para a escolha da vítimas do bullying são os mais banais e injustificáveis, qualquer coisa que fuja aos padrões impostos por um determinado grupo já é apontado como motivo. Podemos dividir esse grupo em três subgrupos.
1)    Vítima típica= são pessoas com pouca habilidade social. Tímidas, reservadas, sem reação a comportamentos provocadores e agressivos dirigidos contra elas.
2)    Vítima provocadora= são aquelas que provocam em seus colegas reações agressivas contra si mesmas, porém não conseguem reagir de forma satisfatória contra as agressões.
3)    Vítima agressora= como forma de compensação reproduz os maus-tratos sofridos, procurando outra vítima ainda mais frágil e vulnerável.
Os espectadores: são aqueles que assistem às agressões, mas não tomam nenhuma atitude com relação a isso. Assim como as vítimas, podem ser divididos em três subgrupos:
1)           Espectadores passivos= por receberem ameaças e terem medo de serem a próxima vítima assumem essa postura.
2)           Espectadores ativos= embora não participem ativamente dos ataques, dão “apoio moral” aos agressores.
3)           Espectadores neutros= são aqueles que não apresentam nenhuma sensibilidade pelas situações de bullying presenciadas, normalmente isso se dá por uma questão sociocultural (lares desestruturados ou em que a violência faz parte de seu cotidiano).
Não importa o papel que se assuma dentro desse trágico contexto, o essencial é que todos tomem providências e assumam posturas para, ao menos minimizar, os efeitos maléficos causados pelo bullying.
O caso de Phoebe Prince, ocorrido em Massachusetts, Estados Unidos, é um claro exemplo de que atitudes precisam e devem ser tomadas.
Phoebe Prince era uma adolescente de quinze anos quando se enforcou na própria casa, em Massachusetts, nos Estados Unidos. Ela havia se mudado com a família vinda da Irlanda, e durante meses foi alvo da perseguição de colegas na escola. Encontrou no suicídio a saída para uma situação que não via outra saída.  A tragédia provocou comoção em todo o país, despertando tristeza e indignação e levando a mudanças na legislação, no que ficou conhecido como o maior caso de bullying da história americana. Psicólogos, jornalistas e advogados são ouvidos sobre o problema e a postura que devem adotar a escola e a sociedade para evitar novas perdas e traumas. 
Tolerar o intolerável e justificar o injustificável são posturas de extremo desrespeito para com a maioria absoluta da humanidade, que batalha todos os dias por um mundo melhor e menos violento. (SILVA, p. 53)
Nossa vida só tem sentido quando nos relacionamos de forma sadia com as pessoas ao nosso redor. Sejam colegas de trabalho, colegas de escola ou familiares, enfim todos aqueles que fazem parte de nosso grupo social.
Nós, na condição de seres humanos, necessitamos de relacionamentos para podermos evoluir e crescer em qualidade de vida, entretanto esses relacionamentos precisam ter como base o respeito às individualidades.
Dessa maneira é importante que, pais e educadores estejam sempre atentos aos tipos de relacionamentos que seus filhos e alunos estabelecem com seus pares, pois as emoções, pensamentos e atitudes  são alterados positiva ou negativamente sob a influência do ambiente externo, o qual muitas vezes, serve de cenário para verdadeiras atrocidades.
A tríade relacionamentos/ cérebro/ ambiente externo é extremamente importante para o desenvolvimento de uma personalidade sadia, daí a importância de buscarmos sempre propiciar condições adequadas para tal desenvolvimento às nossas crianças e adolescentes.
Pessoas diferentes agem de diferentes formas frente ao bullying, pois cada pessoa utiliza os recursos psicológicos e reservas emocionais que possui diante das diversas situações enfrentadas em seu cotidiano. Há quem adoeça, mas há quem supere situações traumáticas vivenciadas.
Infelizmente vimos acima o exemplo de uma garota que não conseguiu superar o constante transtorno causado pelo bullying e acabou se suicidando. Agora veremos um exemplo de superação.
David Robert Joseph Beckham, considerado um dos maiores jogadores de futebol do mundo, declarou em entrevista à revista Guardian Weekend (Inglaterra)  que durante a sua adolescência foi vítima de bullying, pois enquanto seus colegas pensavam em diversão ele se focava no futebol. Recusando-se a sair a noite para beber com “a galera”, tornou-se vítima de constantes zombarias, seus intimidadores o chamavam de “mulherzinha”.
Beckham se juntou a outras celebridades para apoiar uma campanha anti- bullying denominada Beat Bullying ( acabem com o bullying), organizada pelo governo inglês e declarou à BBC News  que “o bullying é algo que todos nós temos responsabilidade de erradicar.”
Mesmo diante das constantes zombarias Beckham não se deixou intimidar e perseguiu seu alvo até atingir seu objetivo de ser um jogador profissional de grande expressão mundial, tornando-se a figura pública que é hoje.
Infelizmente não temos tantos exemplos positivos frente ao bullying como o de Beckham. Daí então, a importância de arregaçarmos as mangas e fazer valer o que diz o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente):
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Analisando esses artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente fica evidente que qualquer “brincadeira” em que o alvo dessa sinta-se ofendido e desrespeitado deixa de ser brincadeira e acaba ferindo a dignidade da pessoa.
O bullying é algo que fere em todos os sentidos a dignidade da pessoa que se torna vítima, perpassando questões éticas, uma vez que interfere nos relacionamentos estabelecidos entre seres humanos.
É necessário muito diálogo sobre o assunto com filhos e alunos, visando uma conscientização em massa para que tal “brincadeira que machuca” seja erradica de nossas relações interpessoais.
O bullying é um fenômeno bastante antigo, porém começou a ganhar proporção no início dos anos 70 na Suécia, onde passou a ser objeto de estudo científico, pois grande parte da sociedade mostrou-se preocupada com a violência entre os estudantes e suas conseqüências.
No Brasil temos a Abrapia- Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência que se dedica a estudar e divulgar esse fenômeno desde 2001. Temos também um Projeto de Lei, nº 350/ 2007, do deputado estadual Paulo Alexandre Barbosa, que autoriza o Poder Executivo a instituir o Programa de Combate ao Bullying, de ação interdisciplinar e de participação comunitária nas escolas públicas e privadas do estado de São Paulo.
Acredito que iniciativas como essas, se levadas a termo, chamará à responsabilidade os agressores, amenizará as humilhações das vítimas e conscientizará os expectadores desse fenômeno estarrecedor que tem feito parte de nosso cotidiano. E talvez, em um futuro próximo, possamos vislumbrar uma sociedade composta por indivíduos conscientes, críticos, responsáveis e sensíveis.
Encerro esse artigo com um trecho de Augusto Cury (2008), que ao meu ver, contribui em muito para o desenvolvimento de mentes menos perigosas e que tem a capacidade de empatia.
Ter cultura, boa condição financeira, excelente relação conjugal e propiciar uma boa escola para os jovens não basta para produzir saúde psíquica. Qualquer animal só consegue escapar das garras de um predador se tiver grandes habilidades. Prepare seus filhos ( e alunos ) para sobreviverem nas águas turbulentas da emoção e desenvolverem  capacidade crítica. Só assim poderão filtrar os estímulos estressantes. Serão livres para escolher e decidir (...) Prepare seu filho ( e aluno) para “ser”, pois o mundo o preparará para “ter”.

                        Referências Bibliográficas

CURY, Augusto. Pais brilhantes, Professores fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante, 2008

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas nas Escolas: Bullying. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010

INTERNET: http://eptv.globo.com, acessado em 22/08/2011 às 21:46h.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Psicossomatica, acessado em 24/08/2011 às 21:28h
http://www.pdrdownloads.net, acessado em 19/09/2011 às 20:36h
http://revistaescola.abril.com.br, acessado em 17/07/2011  às 22:24h
http://meuartigo.brasilescola, acessado em 17/07/2011 às 22:27h
http://www.catolicaonline.com.br, acessado em 17/07/2011 às 22:30h
http://www.observatoriodainfancia.com.br, acessado em 13/10/2011 às 21:06h

Nenhum comentário:

Postar um comentário